angústia
bromélia em tronco de árvore morta.
esperança
o caminho como destino.
saudade
ler o primeiro diário.
amizade
buscar os olhos do outro lado da sala. comunicar sem precisar de palavra.
paixão
as luzes no mapa do metrô acendem devagar demais.
desejo
velas sopradas.
medo
maionese estragada / avião em silêncio / nascer mulher
tempo
pés de galinha ao lado dos olhos.
diário picotado.
18 de setembro de 2023 - segunda-feira
numa caminhada de tropeços, aprendo com as quinas.
19 de setembro de 2023 - terça-feira
comecei a colher as flores que esperava receber. colher as flores pra prender no cabelo, pra colar na parede, pra secar nos cadernos. posso colher o que quero receber, e posso entregar o que quero receber. as flores que me assustam com a sua teimosia de manter algum resquício de vida nos galhos ressequidos.
20 de setembro de 2023 - quarta-feira
passei dois dias sem tocar no amor pra ver o que acontecia com o amor exposto ao tempo. será que murchava, será que nasce mofo, será que vira broto? que cheiro tem o amor intocado, qual a cor de um amor maduro?
21 de setembro de 2023 - quinta-feira
o que herdamos dos nossos pais, as mesmas linhas de expressão, as mesmas manias, os mesmos dedos do pé, a mesma ansiedade rangendo os dentes, as espinhas, a dor na coluna e a dor de cabeça e o amor pelo mesmo remédio que sei sempre aonde encontrar, na primeira gaveta, próximo aos chocolates escondidos.
22 de setembro de 2023 - sexta-feira
me sentindo um pouco apática ao mesmo tempo que sentindo muito. como lidar com essa dualidade, com esse coração prestes a ser quebrado, um coração já espatifado, um coração pronto pra pular. quero um coração remendado.
23 de setembro de 2023 - sábado
pensando que não tem amor grande o suficiente pra caber nesses ladrilhos, por entre as tábuas desse chão o acúmulo das poeiras e letras do que não te disse. no rejunte do azulejo da cozinha a gordura da fritura e o bico da boca calada.
24 de setembro de 2023 - domingo
queimar embaixo do sol e te esperar. ficar bem cheio do almoço e te esperar. compartilhar os copos e te esperar. lavar a louça e te esperar. bater roupa na máquina e te esperar. ver o dia acabar e te esperar.
janelas abertas.
"aquele abrir o caminho no mato. serrote, facão, talvez mais uma pinça. minha gata mais velha, um alicate e um martelo que sobraram meio que no acaso, meio de quem estava também pendurando uns quadros. 🌿 escrever às vezes tem dessas. mas a grande novidade pra mim é que já não consigo usar a euforia como procedimento. minha tão amada euforia, deve ser porque entendi que não há como conciliar a tranquilidade que tenho, quero e preciso, com os arroubos do desmedido. ou, pelo menos, não agora. 🍓 escrever é, felizmente, minha dificuldade preferida, quero dizer, a habilidade de um gesto que continua a palavra, essa ferramenta que é tão mais que uma ferramenta"