Na vida, categoria amadora.
Escrevi essa frase nem sei quando, mas acho que sempre fui um pouco assim, experimentadora. Quando era criança minha mãe falava que eu nunca terminava nada. Fiz aula de ballet, violão, teclado, canto, natação, ginástica rítmica, flauta doce, violino.
Sou grata aos meus pais por me deixarem pingar em tudo isso, apesar de às vezes pensar que pode ser uma falha de caráter não terminar nada.
Assistindo aquele filme "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" fiquei pensando nas minhas possíveis vidas paralelas, se em cada aula matriculada eu tivesse mantido até o final, onde estaria? Se pensar em cada coisa que tentei, tenho muitas vidas paralelas possíveis e às vezes gosto de pensar em quem seria como uma boa bailarina, musicista, atleta. Mas nessa realidade, acabei não ficando muito boa em nada.
Apesar de saber disso, não mudo. Deve ser muito bom ser muito bom em alguma coisa, mas é muito bom também ter um pouquinho de cada mundo.
Hoje equilibro nos dedos muitos papéis e continuo acumulando amores. Sou amadora de tudo, mas quero muito amar algumas coisas até o final, quero escrever até o final, e amar música até o final, quero ter fotografias da vida inteira, e quero até o final continuar praticando exercícios pra poder ficar impressionada com a capacidade do corpo de aprender novos movimentos.
Mas pra fazer coisas até o final, a gente precisa começar de algum lugar.
Ser amadora de tudo até que o amor me persiga.
diário picotado.
06 de fevereiro- segunda-feira
pra começar a escrever tiro os anéis.
07 de fevereiro- terça-feira
dos cacos que sobraram vou montar um mosaico, colocar na parede branca pra me acostumar com a presença até passar batido, pra só perceber quando uma visita chegar e dizer "que mosaico bonito", aí eu vou olhar e lembrar do que era antes de ser caco e falar "é mesmo", e vamos seguir até a cozinha, passar um café e esquecer mais uma vez do mosaico na parede branca.
08 de fevereiro- quarta-feira
muita coisa aconteceu pra chegarmos até aqui. preciso urgente limpar meu quarto, passar pano e deixar tudo cheiroso e limpinho pra andar descalça e não sentir que tem sujeira grudando no pé.
09 de fevereiro- quinta-feira
tô ansiosa. queria dar uma sumida e esperar o tempo passar, fingir que dormi e sem querer meu alarme não tocou, agora são dezessete e alguma coisa, tem gente tranquila e eu queria estar também, existe algo no encontro desse piso que me deixa coçando uma pele que o dedo não alcança. você já sentiu isso? vontade de coçar o corpo interno que não se alcança? me sinto feia de perto bonita de longe, meu olho é torto e hoje tiraram uma foto horroroso. ele pediu pra eu sorrir com os dentes e eu obedeci, continuo nesse ciclo de obedecer obedecer obedecer. o que será que será que será que será essa estúpida retórica.
10 de fevereiro- sexta-feira
os dias passam corridos, a semana como um grande borrão, já é sexta e conto nos dedos. a semana como um borrão mas não você, você é nítido no meu vazio. vida num corpo oco, me sinto uma marionete de fios cortados, caída sem saber como movimentar sem que me controle.
11 de fevereiro- sábado
um cordão que não se corta ao nascer, lágrimas que não se secam ao gritar, pernas que machucam quando crescem, pele que enruga quando estica.
12 de fevereiro- domingo
penso uns pensamentos de mariposa que assusta quando reparamos bem ali, parado no canto da parede, gigante e imóvel, esperando pra ser notado. um pensamento de mariposa que sobrevoa a sala fazendo com que todos se curvem com agonia das asas gigantes que podem cegar.
janelas abertas.
Esse vídeo de esquenta pro carnaval.
“Abismo chama abismo ao rugir das tuas cachoeiras; todas as tuas ondas e vagalhões se abateram sobre mim. Conceda-me o Senhor o seu fiel amor de dia; de noite esteja comigo a sua canção. É a minha oração ao Deus que me dá vida.” ( Salmos 42: 7-8 )
A frase de Francisco Mallmann:
“Não deixar dormir quem não nos deixa sonhar”
Esse texto que que a Gabi leu no último sarau do La Casa
obs1. os últimos dias foram conturbados e isso reflete na newsletter e no diário picotado, vim aqui pra ser sincera, esse vai ser o nosso espaço seguro, não vou camuflar nada e acho isso importante de deixar claro.
obs.2 quero agradecer aos que me procuraram pra falar sobre o texto da semana passada, foi muito importante ver que tem gente lendo e se encontrando na proposta.
obs.3 como falei da semana conturbada, meu objetivo era enviar toda segunda, mas tá um pouco difícil de fazer isso, então vamos combinar que será semanal, ok? nem que eu te envie sábado 23h50.
obrigada demais por ler e contribuir com tudo isso!!
Quando a gente faz de tudo um pouco, tem uma visão geral de especialista. Voce é esta diversidade <3 obrigada por ser quem voce é, e me ensinar de tudo um pouco! <3
Gi, que honra meu texto aparecer por aqui! fico feliz que te marcou de algum jeito, pois sua newsletter me inspirou a voltar a escrever (quase) todos os dias!
Me identifiquei com a coisa de não ser muito boa em nada mas saber um pouco de tudo e nunca terminar nada, mas acho que no final das contas, o que vale é o caminho e não o destino final!
obrigada por compartilhar seu cotidiano e suas palavras lindas com a gente! ❤️